Meu mundo se vê preto-e-branco
E nele não há outras cores.
É baço e monocromático,
sem paixões e sem amores.
Meu mundo é dormente e lasso
sem cais, nem porto, nem espaço
para dar-se os finais estertores,
ou grunhidos, muxoxos, gemidos...
Pro diabo com todas as dores!
Se sofre-se, sofre-se quieto
sem reza ou coroa de flores.
Morre-se sempre sozinho
e engolfa-se então nos trevores.
As noites truncadas e incertas
Sem sono e sem sonhos, senhores!
Os dias são sempre de insossos,
aguados, maçantes vapores.
Mas passo por tudo sem ter
de sentir qualquer uma das dores
Meu mundo é estóico sem ser
sem querer, sem saber, sem valores.
É exiguamente habitado.
Sua paisagem são vários sol-pores
que contemplo sem ver o amarelo
ou o róseo arrebol. Unicores.
Graduação do preto até o branco
sem graça, onde há certa beleza
reconhecida, com pouca firmeza,
de um mundo de só duas cores.
06-02-12