Belas manhãs no ermo do Crescente, o rei assírio degolou a muitos homens, misturou seu sangue em argamassa, moeu seus ossos, cortou seus dedos, cerceou suas cabeças, arrancou seus olhos, juntou-os com pedras e betume e os emparedou como tijolos e ladrilhos, revestindo com suas peles enormes e humanas muralhas. Muralhas feitas de homens, ligados espaço a espaço, vazio a vazio, por usuais substâncias de alvenaria nos entremeios. Macabros muros assentados na dor do esquartejamento de homens beligerantes, nada mais intimidador para os inimigos e potenciais invasores. O rei, que já era muito cheio de si, orgulhava-se de ser tão perverso e, se pudesse, provavelmente dormiria diante do ostentoso símbolo seu e de seu povo, assim como de sua estultícia, tão bem construído e autoexplicativo quando se conjecturava o que havia lhe conferido a tão aparente solidez. Mas uma bela manhã, e sem muita cerimônia, chegaram, com ou sem rodas, berrando muito alto, os caldeus - sim os caldeus - e transformaram a muralha em pó, e junto com ela também os assírios e seu rei de pernas bambas, pisoteando, linchando, empalando, e arrevessando sua carcaça estripada como a de uma caça qualquer que se atrapa num fojo. Suas mulheres foram estupradas, violentadas até a morte, seus soldados foram mortos ou escravizados, suas crianças sobreviventes foram vendidas aos nômades mercadores. Os corpos dos que pereceram foram amontoados em montões que chegavam às nuvens e nem os vermes nem o pó da terra deram conta de comê-los. Pôs-se um termo àquele povo tão temido, cruel e, aparentemente, invencível. E para que saibam os podres assírios, tudo isso é culpa de Arpachade.
21-09-11
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