domingo, 15 de janeiro de 2012
LXVI
É (desde que dela sei) um prêmio altivo que foi
uma vez posto sobre o pedestal altaneiro,
revolvendo-se eterna frente ao sol a pino
bem à vista do eu, porém longe do mim
a mil léguas compridas do alcance dos dois.
Bem esmerada, porém erguida, para que
caísse, vez ou outra, atingindo várias cabeças,
em dias aleatórios, feitos de mármore duro
e chuvas de gota espessa, quebrantada,
a arrefecer as ideias frouxas, e pondo
em termos mais simples a concepção
do que se quer, e a visão de ser isso mesmo,
desde o início dos enlaces, desde os cantos
mais madrugais, desde as horas primeiras,
desde tudo o que vem na frente de tudo.
Não é de minha autoria ou propriedade,
não é de meu conhecimento ou parecer,
mas desce a mim cada vez que penso
em tudo o que não posso nem quero
fazer antes de ter o azo e a razão para
em marcha o pôr. Peço perdão pelo vício
de a cobiçar, de desejar tê-la por
mais que um punhado de horas,
de banhá-la no mercúrio dos dias quentes,
de afogá-la junto com os cachetes,
de religiosamente implorar para que fique
sempre aqui ao meu lado, integralmente
minha, a saciar os anseios mais imediatos
para toda e qualquer urgência boba,
para evitar o pugilato de entrededos
durante o governo porco e entrecortado
das horas plenas de ócio. Para que não seja
tão fugaz, para que não seja assim como sói
ser por todo o tempo que me cabe a desejá-la.
Para que possa lembrar-se de que há
quem a queira e a mereça, na medida do possível.
Não como o troféu do mal-informado,
nem como o galardão do ignorante
mas como a recompensa do (des)merecedor,
incapacitado de a receber como sua de direito,
vendo-a dançar com os descompromissados
atinando maneiras de a capturar - efetivamente,
como quem viesse com ordem de prisão,
ou como quem mandasse em vontade alheia
ou como quem... mandasse em vontade alheia...
Pois, como o que sabe o que ansia, sem saber
como o lograr, passo ao largo de sua casa
e, de través, lanço olhares vagos para os felizardos
que a tocam amiúde em um bacanal onde
borbulham nomes russos, vodkas anticristãs,
soluços de gente farta a repimpar-se como somente
com ela se o pode fazer. Satisfação transbodante
é o que vejo nestas pessoas todas, que
muito me diminuem e me rebaixam à condição
medíocre de marginal não extratificado,
mero espectador do gozo alheio e inconsequente
de pessoas que têm muito do que não merecem
e, por não merecerem, são dignas de dispor
abundantemente disso (que em abundância têm)
e legam seu niilismo ao homem que vem depois
em trevas surdas, balbucios roucos, bestas-feras,
depois de mim, deles, do mundo em si, vergonhoso e triste,
e dela, que nos move até o céu - onde não entrará - satisfação.
15-01-12
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